tanta tormenta, alegria

28 de abr. de 2011

A frança mostra a cara

Negócio com leis é que tendem a ser respeitadas por quem respeita leis. Não digo que sejam inúteis. São inevitáveis. Mas são um transtorno, e na maioria da vezes... é, bom, inúteis. Ou não precisaríamos de polícia para ver que sejam cumpridas.
Sendo um transtorno, deveriam ter seu número limitado àquelas realmente necessárias e práticas. O que não me parece ser o caso dessa lei francesa tão comentada.
Ah, os franceses... Tanta coisa boa a ser dita sobre eles... e tanta besteira dita e feita por eles... Lógico, eles não têm o monopólio da irracionalidade, é possível até (mas eu duvido) que nem ocupem nenhuma das primeiras posições na lista dos grandes perpetradores de idiotice. Só que eles acham que são o contrário, os guardiães da razão no mundo assolado por la folie... Ah, os intelectuais franceses... aquela saraivada de adjetivos, aquela propensão à tautologia, aquele tatear no escuro do pensamento em busca do interruptor, que há tempos vêm passando por estilo e inteligência franceses...
Onde a clareza maravilhosa de Montaigne e de Voltaire?

Mas a lei. O que tenho visto em jornais, não só no Brasil, tem sido no mínimo desinformativo. Pude entender, juntando trapos de notícia daqui e dali, é que a lei proíbe não a burca e o niqab, como em geral se vê nas folhas, mas toda e qualquer cobertura facial (máscaras, capacetes, máscaras de esqui, inclusive cachecóis enrolados de modo a cobrir o rosto) no sempre elegante linguajar oficial e oficioso, e não símbolos religiosos. É engraçado que ela não proíba justamente o uso das tais coberturas faciais nas poucas situações em que elas são realmente necessárias, ou seja, para motoqueiros, bombeiros, em algumas condições no inverno... As justificativas mais alardeadas para a existência da lei têm sido duas: segurança e a preservação do caráter laico do espaço público.
Quanto à primeira, a frase com que abri esta papagaiada resume o que penso. É possível que alguém racional acredite que um perverso malfeitor, seja terrorista, seqüestrador, assaltante, vai deixar de cometer um crime, preocupado com a multa que pagaria se escondesse o rosto? Me parece que alguém disposto a explodir uma estação de trens, um avião ou mesmo uma casinha de cachorro já ultrapassou este estágio há bastante tempo... Aliás, acho que um bandido espeertinho há de saber que andar pela rua com a máscara do Reagan, ou com máscara de esqui no verão, vai parecer suspeito com ou sem lei.
O segundo argumento é negado pela própria lei, que não proíbe a exibição de nenhum símbolo religioso que não cubra o rosto.

Logo, o que se pode concluir?
Visto que as únicas pessoas obrigadas mesmo a mudar seus hábitos por causa da lei são as mulheres muçulmanas que usam a burca e o niqab cotidianamente (pouquíssimas, de acordo com as estatísticas) é de se supor que a lei, na verdade, se destine a elas. E que tenha sido motivida pelo desejo do governo francês, centro-direitista, de se curvar à xenofobia crescente (aliás, é incrível que ela ainda possa crescer mais na França) e tentar evitar a bastante possível derrota para a extrema direita, nas eleições vindouras.

É preciso que eu diga, não estou defendendo o uso de burca ou niqab. Sei que a maior parte dos muçulmanos, homens e mulheres, condena esse uso, inclusive autoridades religiosas, que dizem não existir no alcorão nada que o justifique.
Mas que algumas mulheres se vistam assim (e que algumas o façam a contragosto, pressionadas por famílias ou maridos, ou ainda que voluntariamente, condicionadas por hábitos vetustos, é outra discussão) me incomoda menos que o serem elas forçadas a não fazê-lo, através de uma lei que grita sua inutilidade e seu caráter discriminatório (também sei que toda lei discrimina alguma coisa, diacho, é para isso que ela serve; a chave aí é a inutilidade).

De tudo que li, apoiando a criação da lei, a única observação que achei interesante e capaz de levar a uma boa discussão, foi a de João Pereira Coutinho, quando diz que a lei deve ser louvada como a forma encontrada por um governo moderadamente direitista para evitar que um eventual governo ultradireitista promulgue leis ainda mais restritivas. Não concordo, mas dá para discutir um pouquinho.

22 de abr. de 2011

CVCine

Todo mundo precisa, vez em quando, de um feriado mental, e uma das coisas que o cinema faz direitinho é fornecer cenários pras nossas vidas imaginárias. Cada filme é um lugar diferente fora do mundo real. E por mais que as gentes sérias aí pelas folhas, páginas e telas apregoem as seriíssimas implicações e intenções das artes e entretenimentos, eu tenho pra mim e aqui vos digo, meus queridos, que uns... vá lá, 97,62% dos méritos de qualquer livro, filme, quadro, sinfonia, estão justamente na sua capacidade de embaçar nossa realidade intolerável. As Musas são as agentes de turismo do espírito. E melhores não há.
Na verdade eu acho mesmo que toda a linguagem humana foi criada pra nos distrair da realidade. Na verdade, indo um tiquinho mais longe, eu acho mesmo que tudo que a gente faz e fez, de se apaixonar a criar cidades-estado, serve e serviu pra nos distrair da realidade.
Mas isso aqui é sobre filmes. Pra dizer que não tem nada errado nisso de gostar de um filme porque ele te faz navegar pra longe da sala sem graça onde você estava sentado na hora em que o assistia.
Aqui alguns filmes que visito e revisito há anos, antes de mais nada por causa dos cenários.

Shadowlands. Ah, a história da literatura seria tão diferente se eu morasse neste filme!... Não tem dúvida: aquela casa do Anthony Hopkins me faria escrever prateleiras de obras-primas. A mestria, o domínio perfeito da perícia verbal que emanariam daquelas paredes e se depositariam no papel com a suavidade e a certeza de um rio calmo... É isso: minha falta de talento é geográfica. Melhor, imobiliária.



Enchanted April. Neste juntam-se a Inglaterra e a Itália, minhas duas paixonites geográficas. O Castello Brown fica em Portofino. Passou de mão em mão desde mil oitocentos e sei lá quanto até ser comprado pela cidade em 1961 e virar atração turística. O livro que inspirou o filme foi, se não me engano, escrito nesse mesmo castelo, em 1922. 


Stealing Beauty. Claro que a presença da Liv Tyler aprimora a paisagem, e eu ficarei seriamente decepcionado se descobrir que ela não vem junto no pacote, quando comprar aquele sitiozinho na Toscana.



Hanna e suas Irmãs. Acho que Nova York nunca foi, nem deve ser de verdade, tão bonita quanto neste filme.


A Room With a View. Ivory e Merchant eram especialistas em confeitar Sabrinas e Júlias para boas moças alfabetizadas de ambos os sexos, e este em particular, com seu roteiro que achata as sutilezas do livro e injeta glicose no que já era groselha, e seu casal de protagonistas que somados têm o talento de um Gianechini bêbado, deveria fazer E. M. Forster lamentar o seu conhecimento do alfabeto. Mas ói outra vez a Itália e a caipirada inglesa e seus gramados quadricentenários juntos para compensar a contento os suplícios menores.

21 de abr. de 2011

Dois retratos

Gostei não do texto sobre arte. Chato escrever em marcha lenta.
Encerrando o assunto, dois retratos.


Neste vejo um senhor distinto mas informal, boa companhia prum gole e um papo. Meio triste, o olhar, mas inteligente, bem-humorado, talvez até um pouco malandro.


Neste o negócio é outro. Nada amigável, nada informal. Nenhum aperitivo à vista por aqui. O olhar é quase agressivo, mostra um desdém violento, como se dissesse que não se importa conosco, não importa se o vemos ou não. Como se dissesse que ele é mais importante que nós, que a nossa presença diante dele, porque ele é real e nós não. Nós estamos dentro daquele outro retrato, junto do senhorzinho distinto. Ele não. Ele existe de verdade enquanto nós somos sonhos.
Sem qualquer roupa visível que nos ajude a dizer se é rico, pobre, elegante ou vulgar, ele não faz pose nenhuma, só fica parado diante de nós em silêncio afirmando que existe e que não é qualquer um. Ele é inteligente, dá para ver. Ele viu e fez muita coisa. Ele é forte, mas também está cansado. Ele sabe que o tempo é curto, que a vida é curta, que tudo passa, e não quer saber de enrolação.
O que este retrato diz é: Olha, tá vendo? Eu sou um homem. Eu não presto. Eu sou um herói. Eu sou um artista. Tá vendo o que eu sei fazer? E você? Faz melhor? Eu tô morrendo. Você tá morrendo. Não me importa. Isto que eu fiz vai ficar, e é melhor que eu e você. Isto que eu fiz é a vida.

O primeiro é um retrato do escritor Frank McCourt, feito pelo Jason Seiler para ilustrar a notícia da morte de McCourt. É uma ilustração de primeiríssima.
O segundo é um auto-retrato de Lucien Freud. É uma obra de arte.

16 de abr. de 2011

Cânone móbile

O Sétimo Selo

Esclarecendo: o Bergman não era um intelectual atormentado. Era um artista, ou o mais próximo que um diretor de cinema chegou disso. E este filme deve ser, dentre os seus melhores, o mais acessível e apaixonante. Não o melhor, mas é provável que o melhor primeiro filme a ser visto por alguém a fim de conhecer Bergman. Se você não gostar deste filme, acho que não gostará dos outros. Para mim ele é tão fundamental que lembro detalhes não só do dia em que o assiti a primeira vez, mas da época e do lugar. Lembro a sala e a tela (não mais que uma garagem e um lençol), lembro que de acordo com as legendas em espanhol a morte convidava o Max Von Sydow para jugar el ajedrez, lembro a tarde nublada e lembro a conversa idiota do casal sentado atrás de mim quando o filme acabou, ambos comentando naquele tonzinho enfastiado típico duma certa classe de imbecis que a idéia da arte como redenção era um clichê. Lembro que na época eu ainda não fumava e que fiquei andando pra cima e pra baixo esperando a hora da sessão, sem dinheiro pra mais nada além dos filmes. É, filmes, que eu não era de sair de casa pra ver um filme. Na mesma tarde vi também Morangos Silvestres e O Ovo da Serpente. Era preciso ver todos os filmes e ler todos os livros pra poder viver.
Lembro, mas aí posso estar enganado, que a bilheteira lia Silvia Plath.
Assistir a O Sétimo Selo foi quase uma cerimônia, que sacramentou definitivamente não só meu amor por Bergman, nascido saltitante, pimpão e boquiaberto, no dia em que vi Fanny e Alexander, mas também a descoberta de uma nova beleza possível nos filmes e nas coisas.
Hoje que tudo isso existe em DVD acho que é impossível pra quem não viveu aquilo ter idéia da proeza que era conseguir assistir a alguns filmes. Bergman, Kurosawa, Antonioni, Fellini, e tantos e tantos outros, como era difícil ver... com esforço e muita paciência, encontravam-se uns três ou quatro filmes de um, dois ou três de outro, em vídeo (VHS), ou se esperava que algum cineclube os exibisse. E isso porque estou lembrando os óbvios... Os raros de verdade...
Mesmo assim vi tudo que pude.
Ainda revejo esse filme, e ainda sinto uma afinidade que poucos outros me despertam.
Essa Idade Média de mentirinha, com céus frios e luzes e sombras fortes, com seus personagens modernos demais pra ser medievais (mas que exatamente por serem modernos em sua sensibilidade fazem um contraste violento e fértil com a ambientação), com sua atmosfera mambembe, e com aqueles atores! ah, Bergman e seus atores!...fala ao pirralhinho encolhido, olhos ainda arregalados de fascínio e pavor, com a intimidade de um parentesco esquisito.
Como se ele entendesse sueco.


Moby Dick

Fui engolido pela baleia lá por 1990. Morávamos, eu e la famiglia, numa casinha minúscula, e eu sem emprego (não que quisesse um) me dedicava à única atividade condizente com a minha natural nobreza de caráter: o ócio.
Na verdade, eram noites e mais noites de leitura ininterrupta. Depois que os pessoal deitava, com a eletrizante perspectiva do batente ao raiar do novo dia, eu assumia meu posto auto-designado na mesa de jantar que ficava na sala (não era uma sala de jantar não, nem dois ambientes, só uma casa pequena mesmo), e munido do equipamento completo indispensável às minhas viagens aventurescas (abajur, pilha de livros e um caderno), zarpava, silencioso feito rato escalando cordame de navio, que preguiçoso eu podia ser, mas sem consideração a ponto de atrapalhar o sono dos trabalhadores, não.
Nunca li tanto nem tão bem. E Moby Dick é das mais  vivas dessas leituras.
O livro é um troço estranhíssimo na literatura americana da época, ou em qualquer literatura de qualquer época. Melville se inspirou em histórias reais de navios atacados por baleias (existe em português o livro do Nathaniel Philbrick, sobre o naufrágio do navio Essex) e começou pensando fazer um retrato sincero e realista do que era ser tripulante de um navio baleeiro. Tendo sido um, ele conhecia bem a profissão, e achava que o modo como fora retratada em livros até aquele momento era inexato e injusto. Isso é mais ou menos o que diz, com a voz do Ishmael, lá no comecinho, pouco antes de endoidar e começar a encher o livro de digressões filosóficas, metafísicas, religiosas, poéticas, tudo sem esquecer o realismo informativo que pretendia usar desde o início. Assim, junto às detalhadas descrições e explicações de todo e qualquer procedimento ou objeto relacionado à caça a baleias como ele a conheceu, e junto a detalhadas descrições de cada parte da anatomia de uma baleia, ele despejou baldes de reflexões sobre a natureza de Deus, sobre destino, sobre ética, sobre pecado, sobre o caráter do capitalismo, sobre a natureza essencialmente blasfema da existência humana, e etc. e etc. e bota etc. nisso. Diz (quem diz? não lembro) que ele se trancava no seu gabinete e não saía, escrevia sem parar, dias seguidos. Quando acabou tinha um livro bizarro, desconjuntado e desvairadamente bonito.
Sei que essa minha descrição faz o livro parecer um pé, mas né não, nunca, necas. Eu que não escrevi direito. O livro é mesmo tudo.
Já reli inteiro três vezes, e volta e meia, enquanto não me atiro à quarta releitura, dou um pega nalgumas páginas ao acaso. Ainda é tão misterioso e fascinante quanto na primeira leitura.

14 de abr. de 2011

La donna è móbile - evelyn nesbit

Rimas ricas: robert graves


Robert Ranke Graves nasceu na Inglaterra em 1895 e morreu em Majorca em 1985. Foi poeta, romancista, tradutor, e um dos mais famosos personagens da literatura inglesa no século 20. Engraçado que no Brasil seja quase desconhecido, porque seus livros, pelos comentários que vi, continuam vendendo. Traduzi um poema curto, de novo meio de qualquer jeito.

Dead Cow Farm

An ancient saga tells us how
In the beginning the First Cow
(For nothing living yet had birth
But Elemental Cow on earth)
Began to lick cold stones and mud:
Under her warm tongue flesh and blood
Blossomed, a miracle to believe:
And so was Adam born, and Eve.
Here now is chaos once again,
Primeval mud, cold stones and rain.
Here flesh decays and blood drips red,
And the Cow's dead, the old Cow's dead.

Fazenda da Vaca Morta

Velha saga conta de que maneira
No começo veio a Vaca Primeira
(Pois nada vivo nascera afinal
Na terra, só a Vaca Primordial)
E que ao lamber a lama e a pedra fria
Do calor de sua língua fazia
Brotar carne e sangue, e incrível de ver:
Foi como fez Adão e Eva nascer.
Agora o caos outra vez se renova,
Lama primeva, pedra fria e chuva.
Aqui a carne decai, sangue correu,
E morreu, a Vaca Velha morreu.

11 de abr. de 2011

Não confunda a obra-prima do mestre picasso...

Quando falo que algum filme ou livro ou coisa que o valha não é arte, ou mesmo que cinema, fotografia e até literatura raramente o são, os dois gatos pingados que me escutam ficam com os pelos meio eriçados e soltam aqueles silvos felinos de raiva incontida.
Difícil para mim ser claro conversando. Escrevo melhor. Também não tenho paciência para explicar o que me parece óbvio. Mas, bora lá, expliquemo-nos pois, com a bênção de Ferreira Gullar, de quem vou tentar copiar a clareza.
Minha birra é com o hábito das gentes de chamar João de Astrogildo. Claro que é normal, graças a Deus, um relaxamento com a língua falada. Se todo mundo macaqueasse livros ao falar eu já teria enfiado um lápis em cada ouvido. Mas é preciso observar um mínimo de rigor, meus caros! Ora bolas! Por Júpiter! Quando as palavras são mal empregadas, as idéias são mal entendidas, e qualquer negócio parece mais esotérico do que é, se é que é.
Esse negócio é bem simples: Arte não existe. Só artista.
Arte é o que o artista faz. Qualquer artista, pintor, escritor, bailarino, qualquer um. Cada artista recria a arte em cada obra. Cada obra é tudo ou nada.
Arte, como liberdade, não é uma coisa, não dá em árvore, não está na natureza. É uma construção mental, uma ferramenta conceitual que nos ajuda a viver.
Arte é um processo de manufatura.
O produto resultante é uma obra de arte, um objeto de arte, um artefato ou o que seja. Isso é importante: falando temos o hábito de chamar o resultado do processo de arte. Não é.
Essa idéia de arte é bem próxima, se não idêntica, à idéia primitiva de arte. É a idéia segundo a qual arte é saber fazer alguma coisa bem feita, seja escrever um livro, pintar um quadro ou lavar a cabeça.
Às vezes o uso da arte resulta na criação de objetos, às vezes não. Mas em qualquer dos casos é uma construção mental e em qualquer dos casos pressupõe o saber fazer algo que dê existência física a essa construção mental.
A habilidade artesanal é indispensável à arte.
Logo, aquelas instalações e performances que vêm com resmas e calhamaços de eruditas considerações mostrando porque o palito de sorvete com o araminho enrolado em volta é arte, bom, é..., em geral né não.
E aí chegamos na segunda metade da questão. Arte é também a expressão, geralmente individual, de um sentimento ou conceito.
Mas tudo que fazemos é expressão de alguma coisa. Se mexo o braço, expresso meu desejo, consciente ou não, de fazê-lo. Posso também querer alcançar aquele copo de uísque ali na mesa, ou aquele livro na prateleira, ou estapear aquele gordinho ali, com o dedo no nariz. Posso expressar tudo isso e incontáveis outras coisas, ao levantar o braço, sem uma palavra.
Mas isso não é arte.
Num livro de filosofia encontraremos a expressão de muitas idéias, em geral muito elaboradas e enfeitadinhas, se não profundas. Mas dificilmente ele será arte. Nem é a intenção do autor que o seja, mas negócio é que não basta expressar qualquer coisa. O que se expressa é tão importante quanto a maneira como isso é feito.
É preciso que exista um equilíbrio entre o que se diz e como se diz para que exista arte.
De novo a filosofia: quase sempre é feita de muito conteúdo e pouca forma.
Enquanto a literatura é feita de muita forma e pouco conteúdo.
O que, diga-se, não torna a literatura necessariamente mais artística que a filosofia. Platão é um filósofo e John Grisham um literato. Qual dos dois é o melhor artista?
Na minha idéia, nenhuma das duas costuma ser uma manifestação de arte. A não ser no sentido em que um pneu bem trocado é uma manifestação da arte da borracharia. Tudo é feito com algum tipo de arte, sim, mas nem tudo é feito com a ambição de ser manifestação artística, e dentre o que é, pouco chega perto de conseguir.
Digamos que um objeto de arte deve ser que nem um ovo de páscoa
A confusão acontece justamente porque as pessoas se dedicam a apreciar e comentar só uma das metades. E nem lhes ocorre lembrar dos bombons...

Então, arte é o processo através do qual se manufaturam objetos que expressam conceitos.
Assim, quando eu, falando com imprecisão, digo que isso ou aquilo não é arte, quero mesmo dizer é que aquilo não consegue realizar sua necessidade de existir como objeto conceitual e artesanal.
Alguma engrenagem roda em falso, algum parafuso fica meio solto e tremelicando, fazendo barulho onde devia ter silêncio.
Por isso digo que não existe arte. Arte é um processo ininterrupto, que continua a existir e mudar enquanto o homem existe e muda. Cada artista sempre tenta alcançá-la sem conseguir. Ela é inatingível, porque a relação perfeita entre forma e conteúdo é inatingível.

Outros conceitos de arte são possíveis e existem, lógico.
Eu só acho que esse ainda é capaz de explicar melhor a bagaça toda.

Voltando à minha birra: se chamamos tudo pelo mesmo nome, é como se chamássemos um jacaré de pintassilgo porque os dois nascem de um ovo. Não existe universo em que se possa dizer que Ivan Lins, Cole Porter e Beethoven são a mesma coisa. Dos três, só Beethoven fez arte. Ivan Lins... frankly, aguiar. E Cole Porter... só digo que Deus adoraria existir para poder ouvir Cole Porter. Mas ele não fazia arte não siôr.
Ainda bem. Arte demais entoja.

7 de abr. de 2011

Mencken


Tropecei num pedaço disso na internet, onde mais? e depois de procurar um tantinho, parece que consegui juntar duas ou três partes que fazem um todo coerente. Não sei se o texto é autêntico, não sei se está completo. Mesmo assim, acho que vale uma lida. Traduzi.
Diz que é a resposta a uma enquete publicada em setembro de 1930 na revista The Forum.


O Credo de Mencken

Acredito que a religião, de maneira geral, tem sido uma maldição para a humanidade – que seus modestos e grandemente superestimados serviços no campo da ética têm sido mais que sobrepujados pelo dano que ela causou ao pensamento claro e honesto.
Acredito que nenhuma descoberta de um fato, por mais trivial, possa ser totalmente inútil para a raça, e que nenhum trombetear de falsidades, por mais virtuosa sua intenção, possa ser nada além de vicioso. 
Acredito que todo governo é maléfico, na medida em que todo governo deve necessariamente fazer guerra contra a liberdade, e que a forma democrática é tão ruim quanto qualquer das outras formas.
Acredito que as evidências a favor da imortalidade não são melhores que as evidências a favor da existência de bruxas, e merecem o mesmo respeito.
Acredito na completa liberdade de pensamento e expressão – igual para o mais humilde e o mais poderoso, e na mais extremada liberdade de conduta que seja consistente com a vida em sociedade.
Acredito na capacidade do homem de conquistar seu mundo, e de entender do que ele é feito, e como ele funciona.
Acredito na realidade do progresso.
Acredito – mas a coisa toda, no fim, pode ser dita bem simplesmente. Acredito que é melhor dizer a verdade que mentir. Acredito que é melhor ser livre que ser um escravo. E acredito que é melhor saber que ser ignorante. 

Rimas ricas: shel silverstein


O Tio Shelby, nascido em 1930 e morto em 1999, foi um daqueles caras que nunca soube direito o que queria fazer, então parece que resolveu fazer tudo direito. Ótimo desenhista (ilustrava seus livros), escritor de livros infantis (leia o “Leocádio, o Leão que Mandava Bala” e “Uma Girafa e Tanto”), cantor e compositor (conheço pouco o trabalho musical, mas um cara que fez “25 Minutes to Go”, “A Boy Named Sue”, gravadas pelo Johnny Cash, e “The Ballad of Lucy Jordan”, gravada por todo mundo, devia ter algum talento), ele era também um bom poeta.
Aqui estão dois poemas, que traduzi meio de qualquer jeito.
Ah, ele também escreveu para teatro, mais de cem peças de um ato.


Picture Puzzle Piece
One Picture puzzle piece
Lyin' on the sidewalk,
One picture puzzle piece
Soakin' in the rain.
It might be a button of blue
On the coat of the woman
Who lived in a shoe.
It might be a magical bean,
Or a fold in the red
Velvet robe of a queen.
It might be the one little bite
Of the apple her stepmother
Gave to Snow White.
It might be the veil of a bride
Or a bottle with some evil genie inside.
It might be a small tuft of hair
On the big bouncy belly
Of Bobo the Bear.
It might be a bit of the cloak
Of the Witch of the West
As she melted to smoke.
It might be a shadowy trace
Of a tear that runs down a angel's face.
Nothing has more possibilities
Than one old wet picture puzzle piece.


Peça de Quebra-Cabeça

Uma peça de quebra-cabeça
Largada na calçada,
Uma peça de quebra-cabeça
Encharcada na chuva.
Podia ser um botão azulado
No casaco da mulher
Que vivia num sapato.
Podia ser mágica sementinha,
Ou um vinco no manto
De veludo vermelho da rainha.
Podia ser a dentada, bem de leve,
Na maçã que a madrasta
Deu pra Branca de Neve.
Podia ser duma noiva o véu
Ou a garrafa de um gênio cruel.
Podia ser um tufinho de pelo bem fino
Na pança que dança
Do Urso Ursolino.
Podia ser um fiapo que esvoaça
Da capa da Bruxa do Oeste
Quando ela derrete e vira fumaça.
Podia ser a sombra do risquinho
Duma lágrima correndo no rosto dum anjinho.
Tanta coisa pode ser, mais que tudo que eu conheça,
Uma velha e molhada peça de quebra-cabeça.

Bear In There

There's a Polar Bear
In our Frigidaire--
He likes it 'cause it's cold in there.
With his seat in the meat
And his face in the fish
And his big hairy paws
In the buttery dish,
He's nibbling the noodles,
He's munching the rice,
He's slurping the soda,
He's licking the ice.
And he lets out a roar
If you open the door.
And it gives me a scare
To know he's in there--
That Polary Bear
In our Fridgitydaire.

Um Urso Lá

Temos um urso polar
Na geladeira a morar -
Ele gosta de se refrescar.
Com o rabo no rosbife
E a cara na coalhada
E as garronas cabeludas
Na travessa amanteigada,
Ele trisca no talharim,
Mastiga um tacho de arroz,
Ele suga toda a soda,
E lambe o gelo depois.
E que rugido eu ouvi
Quando a porta eu abri.
E, uau! que susto me dá
Saber que ele está lá
Aquele urso polar
Na geladeira a morar.

6 de abr. de 2011

Você sabia que o marlon brando sabia soletrar?

Sempre ouço um estalinho de porcelana trincando ao saber que alguém entrou na faculdade pra estudar cinema. É o meu coração confrangido que se encolhe, apavorado e cheio de piedade. Isso acontece também quando ouço as palavras faculdade, universidade, estudo, academia, e outras relacionadas ao que me parece um suplício que muita gente ingênua se autoinflige com as mais perfeitas desnecessidade e boa fé. Se a vítima é alguém conhecido, então... noites e noites de triste insônia me esperam... Mas se a faculdade é de cinema, a irretocável estupidez da coisa soa tão violentamente agressiva que dói feito um bom pé nos bo... garts...?
Pois aconteceu há um tempinho. Sobrinha de um grande amigo nosso, eu soube, estudava cinema, e lhe pediu ajuda pra fazer um trabalho. O choque atingiu níveis, e até cumes e píncaros, inesperados, quando ouvi o tema (O Tempo no Cinema) do trabalho, e trechos (um trecho do primeiro parágrafo, na verdade) do texto que lhe deveria servir de base. O Tempo no Cinema... O texto era do Gilles Deleuze... Nosso amigo, coitado, pastou na tentativa de ajudar, levado por desinteressado amor, sua ingênua parentazinha. Conversando um pouco sobre o assunto, assustamo-nos (ingenuidade nossa, agora; já devíamos esperar) com a galopante mediocridade, com a acachapante obtusidade, dos livros e idéias que vêm sendo entuxados em tais cabecinhas, tão evidentemente desprovidas de anticorpos aptos a combater esse tipo de praga. Isso me fez organizar essa listinha. Sugestões de leitura àqueles que se interessem por cinema. Não foi fácil, antes de mais nada porque ler sobre cinema é, talvez, a mais perfeita forma já criada de perda de tempo. Então sugiro, primeiro, que você não leia sobre cinema. Caso lhe pareça que exagero e você insista (ah, a curiosidade dos jovens, a ânsia de saber, de abraçar o desconhecido!), em deslindar as tramas e os dramas das imagens em movimento, a dificuldade seguinte é encontrar algo que mereça ser lido. Tentei ficar só no que me parece básico. Vejamos.
Guia de vídeos/DVDs. Não conheço uma publicação ou site que forneça uma listagem confiável do que existe ou não em DVD no Brasil. Na falta de outros, os livros do Rubens Ewald Filho podem ser úteis.
História do cinema. Um ou dois livrinhos simples só para saber quem nasceu primeiro, Tarantino ou Mèliés. Existem livros baratos de Inácio Araújo e Luís Carlos Merten nos sebos.
Um dicionário de termos técnicos. Para saber o que é traveling, tomada, fade in, essa papagaiada toda.
Teoria do cinema. Se você quiser mergulhar em teoria e coisa e tal, tem um livrinho curto chamado As Principais Teorias do Cinema, de J. Dudley Andrew. É mal escrito. O tom, como se pode deduzir pelo título imaginativo, não é lá muito colorido, festivo ou eletrizante, mas sério e solene, bem adequado para tratar de temas como a morte e as doenças venéreas. É o tom oficial e internacional da Acanemia, e as teorias em si me parecem absolutamente inúteis, mas o livro cobre o principal do assunto rapidamente.
Crítica. Aqui a situação é um pouquinho menos desesperadora. Críticos geralmente são menos crétinos que teóricos, mas ainda assim poucos são capazes de andar sem consultar um manual de instruções. Alguns: Ruy Castro apadrinhou, organizou, prefaciou e posfaciou dois livrinhos dos melhores já lançados no Brasil sobre o tema. Um colige textos de Antonio Moniz Vianna e o outro de José Lino Grünewald. De meu conhecimento, estão entre os melhores críticos em qualquer época ou lugar. Complemente a leitura destes com o livro de artigos do próprio Ruy, organizado por Heloísa Seixas. Parêntese para dizer que nós, no Brasil, não temos o hábito de pôr em livro o trabalho publicado em jornal sobre qualquer assunto, inclusive cinema. Isso torna difícil o acesso a escritos de uma multidão de pessoas capazes. Salvo ignorância minha, faltam-nos coleções de textos de Alex Vianny, Rubem Biáfora, Carlos M. Mota, Pola Vartuk, Inácio Araújo, e mesmo Sérgio Augusto.
A Brasiliense lançou, na década de 80, uma coletânea de textos de André Bazin com título Ensaios, que eu francamente acho dispensável pra quem quiser se limitar ao fundamental. Dificílimo encontrar esse livro em sebos, mas é mais interessante que os dois ou três dele atualmente em catálogo.
Pauline Kael, 1001 Noites no Cinema. Também acho melhor, se você quer ficar no essencial, do que o outro dela em português, Criando Kane e Outros Ensaios, com textos mais longos. Esse 1001 Noites no Cinema tem resumos de críticas, bem curtinhos e cobrindo filmes de todas as épocas e lugares. Mas no Criando Kane está um texto fundamental, chamado Lixo, Arte e Cinema.
Truffaut. O Prazer dos Olhos. Escreve bem.
Alguns dos melhores livros que já li sobre cinema são biografias. No caso, autobiografias. Três: John Huston, Akira Kurosawa e Ingmar Bergman.
Lillian Ross. Filme. É possível que seja o melhor livro sobre cinema. Reportajona sobre as filmagens de Glória de um Covarde, um fracasso épico na carreira de John Huston.
Gore Vidal tem um ensaio magistral no livro De Fato e De Ficção, chamado, se não me engano, Quem Faz os Filmes. Idem Paulo Francis no volume 1 das coletâneas do Pasquim saídas há uns anos. O texto se chama Mata que é Crítico.
Muitos dos melhores escritores estrangeiros na área nunca foram publicados no Brasil, de novo salvo ignorância minha. Se puder ler inglês e tiver dinheiro, leia James Agee e Dwight Macdonald, e David Thomson e Penelope Gilliat. Esses são apenas alguns de que lembro sem esforço, e todos de língua inglesa. Se quiser procurar mais, tasca na Viquipédia um, sei lá, list of film critics, e vê o que acontece.
E assim chegamos à intelnétia. Aí a oferta é vastíssima e inapreensível no período de uma vida. Felizmente a maior parte é perda de tempo. Dos sites vale o óbvio IMDB. E a própria Viquipédia é útil. Both in english. Ah, tem o TSPDT. Em vernáculo, temos pouco que preste. O blog do Carlos Reichenbach talvez seja o melhor.
Taí. Já tem coisa até demais. Para quem se interessar mesmo, aprofundar a pesquisa por conta a partir disso é fácil.

Batuque na cozinha

Visconti é o Zefirelli dos intelectuais.
b
Vivemos num tempo de tão escandalosa covardia mental, que as pessoas acabaram por se acomodar com a confortável e preguiçosa noção errada segundo a qual tolerância significa não ter opinião, ou pelo menos calar opiniões, caso as tenhamos. Nos tornamos sensíveis, ai, tão sensíveis!, às palavras, que virou um pecado chamar as coisas pelo nome. Não se pode mais chamar um idiota de idiota, ou dizer que alguém que acredita em espiritismo é o demente que de fato é. Ter esta opinião, e expressá-la, não é intolerância. Intolerância seria recusar ao infeliz seu direito à cretinice.
k
Semana mais que atípica. Dois filmes bons em seqüência. E recentes. Invictus e Um Homem Sério. O primeiro é fantasia, mas é bonito. Mr. Clint Eastwood sabe fazer um filme palatável. Mas o negócio mesmo é o outro. Há que se reconhecer: os Coen Bros. são os dois melhores diretores americanos trabalhando. O talento do Scorcese vem coxeando há tempos, desde Cassino. Woody Allen se perdeu no limbo da autoparódia. Coppola, o eterno capo, ainda não voltou de entre os mortos. Eastwood é um peso médio supervalorizado. Spielberg às vezes acerta, mas encaçapa a branca. Mais novos: Linklater, Tim Burton, Shyamalan, e Paul Thomas Anderson. Os três primeiros parecem já ter dado o que podiam, sem nunca realizar o que prometiam. O último tem que tomar cuidado pra não se escafeder na estratosfera, tão inflado que é de pretensão. O resto... bom, infelizmente não é silêncio. E só pra constar, no filme dos Bros., nossos crípticos boiaram de novo.
f
Política e barbárie são irmãs siamesas.
ç
O tempo só acrescenta frescor à grande arte e ao grande amor.
x
Que o tempo trouxesse qualidade à televisão, seria esperar não mais que o óbvio. Afinal, se a prática não traz necessariamente a perfeição, é certo que aumenta a proficiência. Que esse tempo ande lentamente não vem ao caso. Correndo ou se arrastando a inércia faz seu trabalho. Mas repetir os atuais louvores à suposta superioridade da televisão sobre o cinema... Certo, alguns filmes, seriados ou não, apresentados de uns (muitos, na verdade) anos pra cá, são tão bons ou melhores que a maioria dos filmes que o cinema nos vendeu no mesmo período. Só que em parte, em grande parte, as qualidades alardeadas desenvolvem com mais ou menos competência o que já era feito no cinema há décadas. Algo criado exclusivamente pela televisão? Não conheço. E não esqueçamos também que o cinema anda, usando o tom mais delicado que posso, uma porcaria lamentável e fedorenta que ofende a sensibilidade e os neurônios de qualquer um que tenha evoluído o suficiente para usar papel higiênico sem ajuda.
Um recurso que a televisão tem, e o cinema não, é esse de contar histórias longuíssimas. Numa série, ou minissérie, seria fácil adaptar Guerra e Paz, ou O Tempo e o Vento, ou O Senhor dos Anéis, sem deixar nada de fora. Hoje então, quando é moda lançar e comprar essas coisas em DVD, o que é outra forma de lucrar, além dos velhos reclames, nem se fala. Assim, enquanto o cinema se assemelha a contos ou poemas, a depender do tom, na televisão seria possível criar romances, que evoluem mais devagar e permitem aprofundar mais personagens e situações. Mas esse recurso raramente é bem usado. O comum ainda é o velho folhetim. Nada contra. Talvez seja mesmo a vocação da TV. Mas acho que seria possível ir mais longe. Vide Bergman em Cenas de um Casamento e Fanny e Alexander, ou Fassbinder em Berlim Alexanderplatz.
r
Somos criaturas que inventam mundos imaginários dos quais podemos nos sentir exilados.

5 de abr. de 2011

Por quê?

É... bom..., tô aqui, né? comendo essa vaquinha...
Me imaginem com as mãos trançadas nas costas, chacoalhando o corpo, os pés voltados para dentro e os joelhos se tocando, os olhos baixos e pidões...
Sei lá porque raio fazer isso. Tédio? Não, a última vez que senti isso foi um dia lá em 1983, mais ou menos, quando fui beber no habitual boteco imaginário com D. Pedro I, Bolívar, Marx, Lênin, Robin Hood, o Capitão Blood e todos meus outros heróis e percebi, de repente, o quanto eles eram chatos. Só falavam de política, de grana, e de como eles eram macho e tal, e quando o D. Pedro ficou meio bêbado e começou a querer encoxar a garçonete que o Marx andava pegando, bom... digamos que os velhinhos tentando brigar foi um espetáculo revelador.
Larguei os caras lá, passei a escolher melhor minhas companhias e nunca mais senti tédio.
Então o quê? Registrarei aqui meus pensamentos e reflexões coalhados de sabedoria e lirismo? Não, a historinha acima já responde a essa pergunta. Não tenho nada a dizer a ninguém, não. Nem sabedoria nem lirismo nem nada não siôr. Só falação.
Também não estou ganhando um tostão para escrever, o que me põe na categoria dos idiotas, de acordo com o Dr. Johnson.
Então por quê? Se não é tédio, dever existencial ou grana, por quê? Qual o sentido?
Acho que é justamente isso: nenhum sentido. Escrever é um hábito inútil, agradável e sem sentido. E o que nos torna homens civilizados é isso, cultivar hábitos inúteis e aprazíveis.
*

Bom, às vezes ainda vejo o Errol...

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