tanta tormenta, alegria

22 de abr. de 2011

CVCine

Todo mundo precisa, vez em quando, de um feriado mental, e uma das coisas que o cinema faz direitinho é fornecer cenários pras nossas vidas imaginárias. Cada filme é um lugar diferente fora do mundo real. E por mais que as gentes sérias aí pelas folhas, páginas e telas apregoem as seriíssimas implicações e intenções das artes e entretenimentos, eu tenho pra mim e aqui vos digo, meus queridos, que uns... vá lá, 97,62% dos méritos de qualquer livro, filme, quadro, sinfonia, estão justamente na sua capacidade de embaçar nossa realidade intolerável. As Musas são as agentes de turismo do espírito. E melhores não há.
Na verdade eu acho mesmo que toda a linguagem humana foi criada pra nos distrair da realidade. Na verdade, indo um tiquinho mais longe, eu acho mesmo que tudo que a gente faz e fez, de se apaixonar a criar cidades-estado, serve e serviu pra nos distrair da realidade.
Mas isso aqui é sobre filmes. Pra dizer que não tem nada errado nisso de gostar de um filme porque ele te faz navegar pra longe da sala sem graça onde você estava sentado na hora em que o assistia.
Aqui alguns filmes que visito e revisito há anos, antes de mais nada por causa dos cenários.

Shadowlands. Ah, a história da literatura seria tão diferente se eu morasse neste filme!... Não tem dúvida: aquela casa do Anthony Hopkins me faria escrever prateleiras de obras-primas. A mestria, o domínio perfeito da perícia verbal que emanariam daquelas paredes e se depositariam no papel com a suavidade e a certeza de um rio calmo... É isso: minha falta de talento é geográfica. Melhor, imobiliária.



Enchanted April. Neste juntam-se a Inglaterra e a Itália, minhas duas paixonites geográficas. O Castello Brown fica em Portofino. Passou de mão em mão desde mil oitocentos e sei lá quanto até ser comprado pela cidade em 1961 e virar atração turística. O livro que inspirou o filme foi, se não me engano, escrito nesse mesmo castelo, em 1922. 


Stealing Beauty. Claro que a presença da Liv Tyler aprimora a paisagem, e eu ficarei seriamente decepcionado se descobrir que ela não vem junto no pacote, quando comprar aquele sitiozinho na Toscana.



Hanna e suas Irmãs. Acho que Nova York nunca foi, nem deve ser de verdade, tão bonita quanto neste filme.


A Room With a View. Ivory e Merchant eram especialistas em confeitar Sabrinas e Júlias para boas moças alfabetizadas de ambos os sexos, e este em particular, com seu roteiro que achata as sutilezas do livro e injeta glicose no que já era groselha, e seu casal de protagonistas que somados têm o talento de um Gianechini bêbado, deveria fazer E. M. Forster lamentar o seu conhecimento do alfabeto. Mas ói outra vez a Itália e a caipirada inglesa e seus gramados quadricentenários juntos para compensar a contento os suplícios menores.

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