tanta tormenta, alegria

6 de abr. de 2011

Batuque na cozinha

Visconti é o Zefirelli dos intelectuais.
b
Vivemos num tempo de tão escandalosa covardia mental, que as pessoas acabaram por se acomodar com a confortável e preguiçosa noção errada segundo a qual tolerância significa não ter opinião, ou pelo menos calar opiniões, caso as tenhamos. Nos tornamos sensíveis, ai, tão sensíveis!, às palavras, que virou um pecado chamar as coisas pelo nome. Não se pode mais chamar um idiota de idiota, ou dizer que alguém que acredita em espiritismo é o demente que de fato é. Ter esta opinião, e expressá-la, não é intolerância. Intolerância seria recusar ao infeliz seu direito à cretinice.
k
Semana mais que atípica. Dois filmes bons em seqüência. E recentes. Invictus e Um Homem Sério. O primeiro é fantasia, mas é bonito. Mr. Clint Eastwood sabe fazer um filme palatável. Mas o negócio mesmo é o outro. Há que se reconhecer: os Coen Bros. são os dois melhores diretores americanos trabalhando. O talento do Scorcese vem coxeando há tempos, desde Cassino. Woody Allen se perdeu no limbo da autoparódia. Coppola, o eterno capo, ainda não voltou de entre os mortos. Eastwood é um peso médio supervalorizado. Spielberg às vezes acerta, mas encaçapa a branca. Mais novos: Linklater, Tim Burton, Shyamalan, e Paul Thomas Anderson. Os três primeiros parecem já ter dado o que podiam, sem nunca realizar o que prometiam. O último tem que tomar cuidado pra não se escafeder na estratosfera, tão inflado que é de pretensão. O resto... bom, infelizmente não é silêncio. E só pra constar, no filme dos Bros., nossos crípticos boiaram de novo.
f
Política e barbárie são irmãs siamesas.
ç
O tempo só acrescenta frescor à grande arte e ao grande amor.
x
Que o tempo trouxesse qualidade à televisão, seria esperar não mais que o óbvio. Afinal, se a prática não traz necessariamente a perfeição, é certo que aumenta a proficiência. Que esse tempo ande lentamente não vem ao caso. Correndo ou se arrastando a inércia faz seu trabalho. Mas repetir os atuais louvores à suposta superioridade da televisão sobre o cinema... Certo, alguns filmes, seriados ou não, apresentados de uns (muitos, na verdade) anos pra cá, são tão bons ou melhores que a maioria dos filmes que o cinema nos vendeu no mesmo período. Só que em parte, em grande parte, as qualidades alardeadas desenvolvem com mais ou menos competência o que já era feito no cinema há décadas. Algo criado exclusivamente pela televisão? Não conheço. E não esqueçamos também que o cinema anda, usando o tom mais delicado que posso, uma porcaria lamentável e fedorenta que ofende a sensibilidade e os neurônios de qualquer um que tenha evoluído o suficiente para usar papel higiênico sem ajuda.
Um recurso que a televisão tem, e o cinema não, é esse de contar histórias longuíssimas. Numa série, ou minissérie, seria fácil adaptar Guerra e Paz, ou O Tempo e o Vento, ou O Senhor dos Anéis, sem deixar nada de fora. Hoje então, quando é moda lançar e comprar essas coisas em DVD, o que é outra forma de lucrar, além dos velhos reclames, nem se fala. Assim, enquanto o cinema se assemelha a contos ou poemas, a depender do tom, na televisão seria possível criar romances, que evoluem mais devagar e permitem aprofundar mais personagens e situações. Mas esse recurso raramente é bem usado. O comum ainda é o velho folhetim. Nada contra. Talvez seja mesmo a vocação da TV. Mas acho que seria possível ir mais longe. Vide Bergman em Cenas de um Casamento e Fanny e Alexander, ou Fassbinder em Berlim Alexanderplatz.
r
Somos criaturas que inventam mundos imaginários dos quais podemos nos sentir exilados.

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